Tuesday, February 14, 2006

Seminário debate
ligação entre cultura e poder


Assunto foi debatido em evento em Florianópolis


Carlos Pereira

Florianópolis - A influência financeira nas articulações culturais, a ideologia escondida na disposição das obras em uma exposição e a mobilidade de uma mostra de arte foram alguns dos pontos discutidos na última mesa-redonda do seminário promovido pelo Museu Vítor Meireles na semana passada, na Capital. Entre os participantes, Paulo Reis, curador independente paranaense; Regina Melin, artista plástica e professora; Yiftah Peled, artista plástico e professor; e João Edmundo Bohn Neto, arquiteto.
Paulo Reis, organizador do Panorama Brasileiro da Arte Contemporânea, fez a intervenção mais crítica. Para ele, há uma articulação cada vez mais estreita e perigosa entre cultura, política e poder financeiro. "O que move as exposições hoje?", questiona, relacionando uma série de "maus" exemplos que comprovariam a influência do capital na definição de vários projetos. Entre eles, a demissão do diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), Ivo Mesquita, abrindo espaço para a captação de "grandes eventos internacionais", como argumentou a direção da instituição na época.
A disputa financeira que se travou em 2001 entre os organizadores da exposição dos 500 anos de descobrimento do Brasil e da Bienal Internacional de São Paulo terminou com derrota para a última, que acabou sendo transferida para este ano. "Nosso desafio é encontrar maneiras ousadas de gerenciar questões como formação de acervo, organização de mostras, entre outros, alcançando resultados sólidos", argumenta ele.
Regina Melin e Yiftah Peled direcionaram suas participações para o espaço dentro dos museus. Regina abordou a mobilidade da exposição, que não deve ficar apenas centrada na própria obra exposta, mas pode ser ampliada para outros "locais" como o catálogo, que também garante o registro e a conservação do trabalho. "A obra não pode ser vista como algo isolado, devendo-se levar em conta também o seu entorno", afirma. Como exemplo, citou o Projeto Artecidade, desenvolvido na periferia de São Paulo este ano, com os artistas montando os trabalhos na rua.
Peled abordou a disposição que os trabalhos têm em uma mostra e a ideologia que isso pode transmitir. "As representações são formações, mas também podem ser deformações", diz. Ele se utilizou de vários slides para exemplificar sua teoria. Segundo o artista e professor, muitos museus estão começando a recolocar o acervo sob novas perspectivas. "O curador tem um papel importante dentro deste processo", afirma.
Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB)/SC), Edmundo Bohn Neto atentou para a necessidade da arquitetura atender as necessidades existenciais do indivíduo. "Para se projetar espaço público é preciso ter sensibilidade para imaginar o resultado nas outras pessoas", observa.

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